A Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) deflagrou, na quinta-feira (19/12/2025), a Operação Pensilvânia, que resultou na prisão temporária de um homem de 30 anos investigado por estupro de vulnerável contra adolescentes do sexo masculino no Guará II. A ação foi conduzida pela 4ª Delegacia de Polícia (Guará) e representa uma das mais relevantes ofensivas recentes no enfrentamento aos crimes de abuso sexual infantojuvenil no Distrito Federal.
Coordenada pelo delegado Herbert Léda, a operação teve como alvo um líder religioso ligado à Igreja Batista Filadélfia do Guará, apontado pelas investigações como responsável por um padrão sistemático de abusos praticados ao longo de pelo menos seis anos, utilizando-se da posição de confiança e autoridade exercida no ambiente religioso para se aproximar das vítimas.
Investigações e identificação das vítimas
As apurações tiveram início em novembro de 2025 e, até o momento, quatro vítimas foram formalmente identificadas, com relatos que apontam abusos iniciados ainda na infância e prolongados por anos. Os depoimentos descrevem diferentes circunstâncias, como encontros promovidos nas dependências da igreja, convites individualizados para a residência do investigado e situações de manipulação emocional reiterada.
A gravidade do caso aumentou com a identificação de ao menos outras oito possíveis vítimas, que seguem em processo de oitiva pela equipe responsável, o que pode ampliar significativamente o número de crimes apurados.
Modus operandi e manipulação psicológica
Segundo a PCDF, o investigado empregava um modus operandi marcado por planejamento e manipulação psicológica. Ele atuava como instrutor de um curso voltado a adolescentes, por meio do qual obtinha informações sensíveis sobre fragilidades emocionais das vítimas, especialmente aquelas relacionadas a conflitos familiares. A partir disso, promovia aproximações graduais, inicialmente apresentadas como gestos de cuidado, que evoluíam para abusos sexuais.
Os convites eram feitos de forma individual, sob a falsa promessa de encontros coletivos, deixando os adolescentes isolados com o agressor. As investigações apontam que esse padrão criou vínculos de dependência emocional, dificultando as denúncias e prolongando o ciclo de violência.
Atuação técnica e proteção às vítimas
A condução do caso pela 4ª DP foi marcada por procedimentos especializados. A Seção de Atendimento à Mulher (SAM) realizou as oitivas de crianças e adolescentes conforme a Lei nº 13.431/2017, assegurando ambiente adequado e reduzindo o risco de revitimização.
Os relatórios de investigação reuniram elementos probatórios robustos, incluindo depoimentos convergentes das vítimas, oitivas de familiares e testemunhas, além da análise de gravações que indicam tentativas de silenciamento e resolução interna dos fatos por integrantes da liderança religiosa.
Em representação acolhida integralmente pelo Juízo de Garantias, foram determinadas a prisão temporária por 30 dias, buscas e apreensões domiciliares, quebras de sigilo telefônico e telemático dos últimos cinco anos, bem como medidas protetivas, como o afastamento imediato do investigado de atividades religiosas e a proibição de aproximação das vítimas.
Tentativas de obstrução e repercussão social
Um dos pontos mais sensíveis revelados pela investigação diz respeito à conduta de integrantes da liderança da igreja após as primeiras denúncias, registradas ainda em dezembro de 2024. Há indícios de tentativas de minimizar os fatos, incentivar o silêncio das famílias e tratar os crimes como questões internas, o que agora também é objeto de apuração policial.
Relatos anexados ao inquérito indicam ainda abordagens intimidatórias a vítimas e familiares, além de discursos que buscavam desacreditar as denúncias, ampliando o impacto psicológico sobre os adolescentes.
Significado da operação e mensagem institucional
O nome Operação Pensilvânia faz referência direta à Igreja Filadélfia e à cidade de Philadelphia, nos Estados Unidos, capital do estado da Pensilvânia. A escolha simboliza o posicionamento institucional da PCDF de que ambientes religiosos não podem servir de escudo para a prática de crimes, especialmente quando envolvem crianças e adolescentes.
Em nota oficial, o delegado Herbert Léda destacou que a Polícia Civil “reafirma seu compromisso com a proteção integral de crianças e adolescentes e assegura que crimes contra a dignidade sexual de vulneráveis serão rigorosamente investigados, independentemente do contexto social, religioso ou familiar”.
Desdobramentos da investigação
A investigação prossegue com prazo de 30 dias para conclusão do relatório circunstanciado. Entre as diligências em andamento estão novas oitivas, perícia forense nos dispositivos eletrônicos apreendidos, apuração de possível coação praticada por membros da liderança religiosa e análise de eventuais omissões por parte de responsáveis que tinham conhecimento prévio dos fatos.
A PCDF reforça que denúncias podem ser feitas de forma anônima pelo Disque 197, garantindo sigilo absoluto das informações. O caso é tratado como um marco na atuação da Polícia Civil no Guará, evidenciando o compromisso institucional no enfrentamento de crimes sexuais graves e na defesa intransigente dos direitos de crianças e adolescentes previstos na Constituição Federal e no Estatuto da Criança e do Adolescente.


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