O Tambor de Crioula Flores de São Benedito realiza neste domingo, 5 de outubro de 2025, um ensaio especial em homenagem a São Benedito, padroeiro e protetor do Tambor de Crioula, na Casa da Cultura do Guará, das 13h às 18h. O encontro promete uma tarde de música, dança, fé e ancestralidade, com comida maranhense e o toque contagiante dos tambores que ecoam tradições seculares da cultura afro-brasileira.
Mais do que um simples ensaio, o evento é um momento de celebração e devoção coletiva, unindo o sagrado e o popular em torno da figura de São Benedito — o santo da fartura, da caridade e da união.
O ensaio deste domingo marca uma data especial para o grupo Flores de São Benedito, que realiza encontros todos os primeiros domingos de cada mês. Desta vez, a roda ganha um significado ainda mais profundo, por coincidir com o Dia de São Benedito, santo que inspira as cantigas, os toques e os gestos do Tambor de Crioula.
Durante a tarde, o público poderá assistir e participar da roda de tambor, conduzida pelas coreiras, mulheres que dançam com saias rodadas ao som das toadas e da batida firme dos instrumentos confeccionados artesanalmente. Haverá também comida típica maranhense, um elemento essencial da celebração, já que o alimento simboliza a partilha e a abundância associadas ao santo.
Segundo Conrada, coordenadora do grupo, o evento é uma homenagem à ancestralidade e à continuidade de um legado deixado por seu fundador: “O Flores de São Benedito é uma manifestação da cultura maranhense, patrimônio imaterial da cultura brasileira. Fomos fundados pelo nosso mestre Chico Macedo, já falecido, em 2018. Ele esteve conosco por vários anos, participou de nossos eventos e deixou uma marca profunda. Todos os nossos instrumentos passaram por suas mãos, e suas músicas seguem vivas em nosso toque, com a bênção de São Benedito. Hoje somos o quarto grupo de Tambor de Crioula do Distrito Federal, junto com o mestre Theodoro em Sobradinho, a mestra Eliana Itapuã e o grupo Lua Nova do Paranoá. Neste domingo, estaremos na Casa da Cultura com o tambor, com São Benedito, para fazermos nossas reverências, com uma comidinha maranhense gostosa, que faz parte da festa e da fartura do nosso santo.”
O evento é gratuito e aberto a toda a comunidade. Para o grupo, é uma oportunidade de compartilhar o toque do tambor como linguagem de amor, fé e pertencimento, aproximando o público da rica herança cultural maranhense.
Tambor de Crioula: o som da resistência e da alegria
O Tambor de Crioula é uma das expressões mais vibrantes e simbólicas da cultura afro-brasileira. Originário do Maranhão, ele reúne dança, canto e percussão em uma celebração que mistura fé, arte e identidade. Ao som dos tambores — instrumentos esculpidos à mão e cobertos por couro — as mulheres formam a roda e marcam o chão com passos firmes, conduzidas pela cadência ancestral das toadas.
Essa tradição nasceu nas senzalas e nos quintais das comunidades negras durante o período colonial, quando o tambor era um instrumento de resistência, um modo de preservar a memória africana e afirmar a liberdade espiritual diante da opressão. Com o passar dos séculos, o Tambor de Crioula se espalhou pelo Maranhão e pelo Brasil, mantendo-se vivo como símbolo de fé e resistência cultural.
A apresentação se estrutura em três elementos: o toque dos tambores, o canto das toadas e a dança das coreiras. No centro da roda, o momento mais simbólico é a umbigada, ou punga, gesto de convite e reconhecimento entre quem dança. Cada batida, cada canto e cada movimento expressam comunhão, alegria e ancestralidade — um elo entre passado, presente e futuro.
Reconhecido desde 2007 como Patrimônio Cultural do Brasil, o Tambor de Crioula é mantido vivo pelo saber oral e pela prática coletiva, em que as gerações mais jovens aprendem com os mais velhos. As rodas, que podem acontecer em festas religiosas, terreiros, praças ou ruas, são momentos de encontro e celebração da vida.
São Benedito: o “Santo Preto” e o símbolo da partilha
A devoção a São Benedito (o Mouro) atravessou séculos e oceanos. Nascido na Sicília em 1526, filho de escravizados africanos, Benedito ficou conhecido por sua humildade, sabedoria e compaixão. Trabalhou como cozinheiro entre os frades franciscanos, e foi lembrado pelos milagres associados à multiplicação de alimentos e aos gestos de caridade.
Canonizado em 1807, São Benedito tornou-se símbolo da fé e da resistência do povo negro e, no Brasil, especialmente no Maranhão, passou a ser venerado como padroeiro do Tambor de Crioula. Sua imagem, vestida de manto e segurando o Menino Jesus, é presença constante nas rodas, acompanhada de cânticos e oferendas que celebram sua generosidade.
Considerado o santo da fartura e da união, São Benedito inspira as comunidades a celebrarem a vida em sua plenitude — com fé, dança, comida e alegria. Seu culto, ligado à partilha e à gratidão, reforça o sentido comunitário das festas populares e a espiritualidade que move o Tambor de Crioula.
Neste domingo, o som dos tambores do Flores de São Benedito vai ecoar pela Casa da Cultura do Guará como um chamado à ancestralidade, à fé e à celebração da cultura popular. Será uma tarde de encontro, memória e devoção — um verdadeiro tributo ao santo que simboliza o amor, a fartura e a força do povo negro.
O público está convidado a participar dessa roda de energia e beleza, das 13h às 18h, na Casa da Cultura do Guará. Com tambor, canto e comida maranhense, o Flores de São Benedito promete fazer da homenagem um momento de alegria, partilha e bênção sob o brilho do “Santo Preto”.






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