O Centro de Convivência do Idoso do Guará (CCI Guará, localizado no Centro Administrativo Vivencial e Esportivo do Guará (Cave), foi tomado pela energia vibrante da cultura popular maranhense neste domingo (16/11), quando o grupo Tambor de Crioula Flores de São Benedito realizou um ensaio especial em celebração ao Mês da Consciência Negra. Entre música, dança, culinária típica e encontros intergeracionais, o espaço se transformou em um território de memória, resistência e reafirmação cultural.
Das 13h às 18h, moradores, convidados de diversas regiões e admiradores da cultura afro-brasileira participaram de uma programação marcada pela força ancestral do tambor, pela espiritualidade dedicada a São Benedito e pelo fortalecimento das lutas sociais protagonizadas por mulheres negras.
Ancestralidade que pulsa nos tambores
Idealizado em 2009 por maranhenses radicados no Guará, o Flores de São Benedito preserva e difunde uma das manifestações culturais mais tradicionais do Maranhão — reconhecida em 2007 como Patrimônio Cultural Imaterial do Brasil. O grupo tem como grande mentor o cantor, compositor, luthier e mestre percussionista Francisco Lucas Macedo, o Mestre Chico Macedo ou Chico Broca, referência no saber ancestral do Tambor de Crioula. Ele conta com o apoio de mestres como Barrabás e Preto Celso, também maranhenses.
Durante o ensaio, mulheres com saias rodadas de cores vivas, homens com trajes tradicionais e tambores feitos artesanalmente com troncos de mangue, pau-d’arco, soró ou angelim e couros naturais deram vida a uma roda intensa, alegre e carregada de simbolismo, homenageando São Benedito e celebrando a negritude em movimento.
Cultura, afeto e sabores do Maranhão
O encontro, conduzido pela coordenadora Conrada, transbordou afeto e partilha. Enquanto se ensaiava e dançava, a comunidade degustava pratos típicos — arroz de cuxá e bobó de camarão e um churrasco coletivo que reuniu gerações. “Estamos aqui ensaiando, dançando, degustando uma boa comida maranhense e fortalecendo essa cultura tão bacana, presente no DF, no Guará, no Seu Teodoro, em Sobradinho, no Paranoá e no Itapuã”, destacou Conrada.
A tarde também teve lazer e convivência: rodas de conversa, partidas de dominó, encontros entre amigos e o repertório potente do DJ Henrique Lion, maranhense e parceiro do grupo, que levou ao espaço uma sequência “demolidora” de reggae e música brasileira.
Aliando tradição cultural e mobilização política
O evento contou com a presença do Coletivo de Mulheres Negras Baobá do Distrito Federal e Entorno, representado pela jornalista e ativista Jacira, que celebrou a união entre cultura, luta social e mobilização comunitária. Pela manhã, o coletivo havia visitado famílias do setor de chácaras do Lúcio Costa — vítimas de remoções violentas executadas pelo GDF e pelo DF Legal — para convidá-las à 2ª Marcha Nacional das Mulheres Negras, que acontece no próximo 25 de novembro, na Esplanada dos Ministérios.
“Estar hoje neste espaço público de acolhimento às pessoas idosas é grandioso”, afirmou Jacira. “Somos mulheres de 60, 70, 84 anos, professoras, artistas, ativistas, sujeitas políticas que há décadas enfrentam o racismo, o machismo e o sexismo. Esta parceria com o Tambor de Crioula nos unifica na luta por direitos, autonomia e reparação histórica.”
Jacira lembrou que a marcha marca os 10 anos da primeira edição, realizada em 2015, e destaca a importância do Manifesto Econômico pela Igualdade Racial, que reivindica reparação financeira às populações negras, com responsabilidade das instituições públicas e privadas. “É um dia em que o mundo vai nos olhar. Que cada mulher se aproprie deste momento histórico.”
Tradição que se renova: últimos ensaios e atividades de dezembro
Conrada adiantou que o último ensaio do ano será realizado no primeiro domingo de dezembro, encerrando o calendário de atividades com confraternização, oficina de cobertura de tambores com couro de boi e participação de coreiros de Sobradinho — parceiros responsáveis por trazer toques, rimas e saberes tradicionais.
Haverá também nova roda de culinária maranhense, espaço de convivência, dominó, conversas e música com DJ Henrique Lion. Na ocasião, o grupo fará um relato sobre a marcha do dia 25 e celebrará mais um ciclo de resistência e cultura no DF.
Preservação da cultura e fortalecimento da identidade negra
O Tambor de Crioula é a celebração viva de uma herança afro-brasileira que atravessou séculos e permanece vibrante graças à atuação de mestres, brincantes e coletividades que se dedicam à sua manutenção.
No Guará, o Flores de São Benedito reafirma esse compromisso ao promover encontros que unem espiritualidade, tradição, solidariedade, mobilização política e alegria — elementos centrais da cultura negra brasileira e da ancestralidade maranhense.
Em um mês dedicado à memória, à luta e à celebração do povo negro, o ensaio deste domingo representou mais que uma atividade cultural: foi um gesto de continuidade, pertencimento e resistência.





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