O Distrito Federal se prepara para um marco histórico na valorização de pessoas e coletivos que dedicam suas vidas à preservação ambiental e ao enfrentamento das desigualdades socioambientais. No dia 28 de novembro, sexta-feira, logo após a COP 30, será realizada a entrega do 1º Prêmio Internacional da Consciência Ambiental e Invisibilidade – Edmi Moreira, idealizado pelo Instituto Ecos do Cerrado. A cerimônia, que ocorrerá no auditório do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (CREA-DF), homenageará trabalhadores, comunidades e iniciativas fundamentais para o equilíbrio ecológico, mas frequentemente apagados da esfera pública. Entre os agraciados está um representante do Guará, o engenheiro ambiental Marcelus Oliveira de Jesus, renomado por seus estudos em geoprocessamento, ações sociais transformadoras e por desenvolver uma das tecnologias ambientais mais inovadoras do país.
Marcelus é reconhecido por demonstrar que, nas cidades, as árvores são muito mais que paisagem. “Elas são infraestrutura ambiental, saúde pública, regulação climática e dignidade social”, afirma. Apesar da importância, muitas vezes permanecem invisíveis — assim como os trabalhadores e comunidades que cuidam de ecossistemas essenciais. Presentes nas calçadas, nos parques e nos canteiros, as árvores prestam silenciosamente serviços ambientais vitais: filtram o ar, reduzem o calor, retêm umidade, acolhem aves, protegem rios e guardam histórias do território.
Foi a partir dessa compreensão que Marcelus coordenou um projeto pioneiro de identificação e monitoramento de árvores urbanas, unindo satélites de alta resolução, drones, câmeras 360° e inteligência artificial para dar identidade, visibilidade e proteção a cada árvore da cidade. A iniciativa cria um mapa vivo e detalhado da arborização urbana, permitindo que gestores públicos, escolas, comunidades e cidadãos conheçam o papel ecológico de cada indivíduo arbóreo.
O método utilizado integra diferentes camadas tecnológicas para produzir diagnósticos precisos. Satélites identificam áreas de déficit de vegetação e ilhas de calor; drones registram altura, diâmetro da copa, sombreamento, risco de queda e potencial de captura de carbono; e o mapeamento em 360° democratiza o acesso a essas informações, levando o conhecimento ambiental para a internet, para salas de aula e para espaços comunitários. Cada árvore é georreferenciada com dados de espécie, histórico, função ambiental e localização. O resultado é a transformação de árvores antes invisíveis em Patrimônio Socioambiental Urbano.
Para Marcelus, visibilidade é sinônimo de proteção: “O cuidado começa com o reconhecimento. Uma árvore identificada, mapeada e monitorada é uma árvore protegida. E uma cidade que reconhece suas árvores é uma cidade que também reconhece as pessoas — principalmente aquelas que, como as árvores, permanecem invisíveis”. Seu trabalho demonstra como tecnologia, consciência ambiental e cidadania ecológica podem caminhar juntas, convertendo dados em preservação, diagnósticos em políticas públicas e arborização em instrumento de justiça social.
A abordagem do prêmio dialoga diretamente com esse conceito. Idealizado por Edmi Moreira, presidente do Instituto Ecos do Cerrado e criador do Dia da Consciência Ambiental do DF, o reconhecimento nasce com a missão de ampliar a pauta ambiental e integrá-la às urgências sociais do país. Em sua primeira edição, celebra cinco anos da data oficial e reforça o compromisso com educação ambiental, justiça social e reparação histórica. O foco central é o enfrentamento ao fenômeno da invisibilidade ambiental, que afeta agentes ambientais, garis, catadores, pessoas em situação de rua, comunidades tradicionais, segmentos negros e quilombolas submetidos ao racismo ambiental e à desigualdade estrutural.
É nesse ponto que a visão humana e política de Edmi Moreira se torna essencial. Para ele, o prêmio cumpre um papel que vai além da celebração: é um ato de reparação simbólica, educativa e social. Em suas palavras: “Criamos o Prêmio Internacional da Consciência Ambiental e Invisibilidade porque entendemos que não há sustentabilidade possível sem justiça social. As pessoas que mantêm vivas as cidades, que sustentam a base ambiental, que recolhem, cuidam, preservam e educam, há décadas são esquecidas pelas políticas públicas. Nosso objetivo é devolver a elas aquilo que sempre lhes foi negado: reconhecimento, dignidade e nome. Cada homenageado representa uma história que o poder público ignorou, mas que a sociedade precisa enxergar. Celebrar essas trajetórias é afirmar que o meio ambiente tem rosto, corpo, voz e território — e que nenhum avanço ecológico será real enquanto houver gente invisível. Esse prêmio nasce para transformar dor em visibilidade, esforço em memória e luta em referência. Ele afirma que cuidar do meio ambiente é, antes de tudo, cuidar das pessoas.”
A premiação evidencia que esses trabalhadores — essenciais para o funcionamento das cidades e para a manutenção dos ecossistemas — enfrentam diariamente condições precárias, falta de reconhecimento, sofrimento psicológico, estigmatização e vulnerabilidade crescente diante de eventos climáticos extremos que atingem sobretudo as periferias. Ao romper com o apagamento, o prêmio resgata trajetórias, dá nome aos protagonistas e reafirma a dignidade de quem sustenta a base ambiental das cidades.Os homenageados desta edição representam a pluralidade da resistência socioambiental: mulheres vítimas de feminicídio, cuja memória reafirma a luta por justiça; artistas com deficiência que desenvolvem projetos ecoeducacionais; catadores e recicladores que reduzem impactos ambientais mesmo sob condições adversas; garis e agentes ambientais que mantêm a saúde urbana; artesãos que transformam resíduos em peças de valor cultural; ativistas contra o racismo ambiental; hortelões que democratizam o acesso ao alimento saudável; além de pessoas em situação de rua engajadas em ações de preservação. A diversidade de perfis reforça a dimensão humana, comunitária e coletiva da sustentabilidade.
Realizado no auditório do CREA-DF, ao lado do Parque da Cidade, o evento reunirá especialistas, pesquisadores, lideranças comunitárias, movimentos sociais e representantes de várias regiões. Mais do que celebrar trajetórias individuais, o prêmio inaugura um novo capítulo na agenda pública do Distrito Federal ao reafirmar que o futuro ambiental depende de todos — principalmente daqueles que historicamente foram invisibilizados. Ao colocar esses protagonistas no centro, o Prêmio Internacional da Consciência Ambiental e Invisibilidade mostra que proteger o meio ambiente é, acima de tudo, um ato de reconhecimento humano.






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